Vivendo Naturalmente



Hoje, 04 de agosto, por mais uma vez me dei o luxo de viver como uma pessoa comum.
Atravessei três cidades ida e volta dentro de seis coletivos diferentes.
É, estou cansada! Mas são nessas oportunidades que vemos a vida de outra maneira, e nossa observação passa a ser mais centrada.
Pela manhã, enquanto ia para o trabalho, procurei vestir-me da melhor maneira dentro das minhas condições. Olhei para a sandália de salto, e para uma sapatilha surrada pousada no canto da porta, pensei em toda minha jornada de casa para o trabalho e vice-versa, optei pela sapatilha surrada, porém, confortável.
Enquanto descia a Avenida a caminho do ponto de ônibus, olhei as pessoas que estavam à minha volta. Reparei no ambulante montando o ponto de comércio, o açougueiro lavando o estabelecimento, e até o cheiro do pão novinho sendo carregado pelo padeiro de avental sujo e a cara cheia de farinha de trigo. Todos os detalhes.
Assim que cheguei esperei junto às oito ou dez pessoas, por quarenta minutos o ônibus que me levaria até 1/4 do meu destino. Parecia que todas elas iriam para o mesmo lugar. Assim que o coletivo apontou na esquina pouco distante, todas aquelas pessoas pareciam entrar em desespero pensando em que lugar o ônibus iria parar e quem entraria primeiro. Deixei que todos entrassem para que eu fizesse o mesmo e me deparei com vários olhares. Uns nervosos, outros tristes, dois ou três esperançosos e alegres, mas... todos cansados! 
Aqueles que estavam nos assentos ao lado das janelas dormiam escorados no vidro embaçado. Vi duas mulheres tentando disfarçar as expressões de cansaço com maquiagem, cores vivas tão cedo! 
As cores e modelos de roupas deixavam aquele espaço dividido de várias maneiras. Elegância, cor, simplicidade e casualidade. 
Reparei que os idosos têm saído de casa com mais frequência. Talvez seja este o motivo para terem criado o assento preferencial nas áreas detrás da catraca. E agora com esse famoso “Passe II” os veremos em maior número nos coletivos, viva os “velhinhos”.
Cheguei ao trabalho exausta. Como os coletivos cansam!
No fim do expediente, retornei ao ponto no qual desembarquei. Assim que entrei no ônibus, após analisar cada olhar curioso que me fitava me dirigi a um assento vago ao fundo do ônibus, e ali fiquei. Espremida entre uma loira charmosa de jaqueta de couro e um homem com o semblante carrancudo mastigando um palito que parecia ter adquirido no almoço do dia anterior. Observei uma moça no assento instalado na ala de cadeirantes. Ela era tão simples. Usava uma chuteira masculina, uma calça jeans desbotada e curta demais comparada às pernas, um terno branco abotoado até o colarinho, os cabelos cortados estilo militar e um boné amarelo. Em seu colo estava uma mochila infantil cujas alças estavam amarradas em vários nós, uma tentativa frustrante de manter as alças presas. Enquanto olhava para o chão fixamente, tentei imaginar o que se passava na cabeça daquela mulher. A observei até que ela pegou no sono depois de alguns minutos.
O corpo relaxou e a mochila pendeu em uma de suas mãos. Ela dormiu ali. Seu corpo acompanhando o sacolejar do coletivo, criando movimentos estranhos e involuntários.
As pessoas riam, olhavam indiferentes, mas eu pensava: o quanto ela trabalhou no dia de hoje? Tem filhos? O marido a ajuda? Boa pergunta! Ela tem maridos? 
Eu tive pena! Senti a o fardo que ela carregava pesar em meus próprios ombros. 
Naquele momento fiz uma oração pedindo a Deus misericórdia pela vida do seu povo. Aqueles que muito têm, e não valorizam, e por aqueles que almejam ter! Pedi que arrancasse o orgulho na vida de muitos e plantasse o sentimento de compaixão e o discernimento de saber reconhecer a força de vontade do próximo em construir um futuro digno.
Hoje percebi que em dias de labuta, do mais velho, até o mais novo, pesado ou leve... sempre temos um fardo a carregar.